terça-feira, 23 de abril de 2013

Bem longe do Hell


Hell é uma história de glamour e decadência. A atuação de Barbara Paz foi a melhor de sua carreira até agora, sem os exageros que essa afirmação costuma gerar. Até Hell, Barbara não tinha encenado nenhum papel de destaque e força. Perdendo-se como coadjuvante de novelas globais e reality shows, seu talento era inócuo. Mas com Hell a atriz se revela uma avassaladora. Como personagem, devasta homens, a burguesia parisiense e os bons modos. Como atriz, ela avassala as emoções da plateia.
A peça é baseada no livro “Hell Paris 75016” de Lolita Pille (2003). A escritora, então com 18 anos, conta de forma irônica e, às vezes, um tanto sádica, a vida dos jovens da alta sociedade de Paris, grupo do qual ela faz parte. “Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis, da pior espécie; uma sacana do 16ème, o melhor bairro de Paris, e me visto melhor que sua mulher, ou sua mãe (…) meu credo: seja bela e consumista.’’ É com esse discurso que a autora começa sua publicação. Por mais que a futilidade estivesse em seu sangue, a autocrítica é o mais importante do livro. E da peça.
No palco, o cenário é um quarto, no qual a atriz troca de roupa compulsivamente, fazendo um monólogo sobre seu estilo de vida. Começando de forma calma e consistente, parece estar em um consultório contanto, desdenhosa, as pequenas neuroses da vida cotidiana para um psicanalista. A ira cresce à medida que temas mais fortes, como drogas e sexo, substituem as fofocas e as roupas de grife.
Em certo momento, com a maquiagem borrada e o cabelo desgrenhado, a atriz transforma um pranto, que poderia ser patético de tão fútil, em um verdadeiro apelo. A falta de perspectiva comove e a culpa se mistura com a indiferença numa garota cheia de dúvidas.
Um amor tão complicado quanto os sentimentos da protagonista aparece no meio da peça, quando você pensa que o monólogo filosófico seria o suficiente para levar a encenação até o fim. Uma das cenas mais bonitas ocorre entre o casal. Misturando dança contemporânea e um vestuário completamente bege, faz um verdadeiro balé deitado. Mas nada se compara ao final. O que poderia incluir tantos clichês de regeneração moral acaba tendo um desencadeamento mais do que inesperado, e ainda, satisfatório para aqueles que entenderam, de fato, o coração da personagem.


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