segunda-feira, 18 de março de 2013

Esquina





A esquina iria separar os dois. Juntos, de mãos dadas, caminhavam na mesma direção e também na mesma cadência. Ele chegava a andar torto, trôpego, tamanha era a fascinação pelo rosto dela. Seus olhos castanhos e grandes, seu cabelo curto, suas sardas claras. Poético. Ele seguia para frente, em frente, mas olhando para ela. E sorria.
Ela encarava o chão. Distraída, talvez. Mas sua mão apertava a dele e seus olhos se encontravam com ternura. Passaram pela banca de jornal, pelo sinal e chegaram a esquina. Dura, fria. Mas ele não a enxergava, só olhando para o lado. Quando ela parou suavemente, ele deu um tranco. Sobressaltou-se e reparou seu movimento, ou a parada dos movimentos. Seu sorriso quase desapareceu, mas restou um ínfimo. Ele ainda estava feliz por ter tido ela por tanto tempo, por toda a noite.
Ela estava desolada, não sabia como seria todo aquele tempo sem ele, que por sua vez, mantinha-se calmo para ela. Seus corpos se encontraram calmamente, ela passou a mão por seus cabelos negros e ele a envolveu com seus braços. Os rostos se aproximaram, e ela se sentiu o cheio e menta do seu hálito, sorrindo abertamente antes de beijá-lo. O beijo durou alguns segundos, ninguém parou para observar, o mundo não girou, só o sol da manhã era espectador. E era assim que eles queriam
-Tchau, amo você. - disse a jovem baixinho com um pesar absoluto na voz. Ele fechou os olhos ao ouvir as palavras, concordando com a cabeça e esfregando o rosto em seu pescoço, como se para sentir seu cheiro e o cabelo ainda molhado. Beijou a mão dela e ficou parado, observando ela partir. Sua luz desapareceu, mas ele aceitou.
Por um instante, achou que ela fosse parar no meio do caminho. A viu dando a volta, correndo e o abraçando, talvez quase o derrubando. Mas ela seguiu decidida, sem olhar para trás. Deu uma corridinha e entrou no metrô para ir trabalhar.

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